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Entre Sessões e Silêncios: O Encontro com a Vulnerabilidade

Nº II

Mais uma sessão de terapia, mais um questionamento que insiste em ecoar na mente, como se fosse um sussurro que nunca se cala. Uma conversa densa, tensa e profunda. Retrospectivas se desenrolaram como filmes antigos, ciclos finalmente foram entendidos e, assim, teve início o doloroso e libertador processo de encerrá-los. Quantas vezes esse cenário se repetiu? Quantas vezes a vida foi ressignificada, não apenas pelos aprendizados obtidos, mas pela coragem de mudar o modo de enxergá-la?

E então veio o questionamento. Simples, quase discreto, mas carregado de uma verdade crua. Fez tanto sentido que começou a enxergá-lo em seus pacientes. Decidiu testá-lo, como quem planta uma semente e aguarda. Os resultados foram surpreendentes.

É na vulnerabilidade que encontramos nosso pertencimento.

Mas como lidar com essa vulnerabilidade? Um questionamento assim não é apenas um ponto de reflexão; é uma jornada. Às vezes, dolorosa, pois exige encarar aquilo que escondemos até de nós mesmos. E não é que seja nossa escuridão, como muitos acreditam. Talvez seja algo ainda mais delicado: a voz abafada de uma criança interior, que machucada, só quer ser acolhida. Essa criança pede o toque de um olhar gentil, um gesto de empatia, um beijo simbólico para sarar feridas que insistem em latejar.

O que nos torna pertencentes quando nos mostramos vulneráveis? E o que nos faz vulneráveis ao tentar pertencer? Essas perguntas carregam uma profundidade quase inquietante. Elas nos obrigam a enfrentar nossas facetas, aquelas que construímos para mascarar nossos medos de rejeição e julgamento. São perguntas que pedem um mergulho corajoso nas águas mais escuras de nosso ser.

Olhar para isso é como descer ao próprio poço. É um movimento silencioso, introspectivo e, muitas vezes, solitário. Apenas quem se aventura sabe como é reconhecer cada detalhe daquele espaço interno: as rachaduras nas paredes, os ecos que se confundem com nossa própria voz. E o mais impressionante é perceber que, mesmo lá, naquele fundo aparentemente inóspito, existe vida. Existe pertencimento.

Subir novamente não é apenas um ato de superação, mas de escolha consciente. É a decisão de acolher aquela parte frágil, de integrá-la, de mostrar-lhe que há beleza mesmo naquilo que julgamos imperfeito. É ensinar a si mesmo que a vida não é feita apenas de paisagens iluminadas, mas também dos pequenos instantes de sombra que nos convidam a descansar, refletir e crescer. E assim seguimos, rolando pelo caminho, não com pressa de chegar, mas com a leveza de quem aprende a apreciar a jornada.

Grata por ler !

💋💋 

Naquela quinta, ela tinha Terapia.

Nº II

A quinta-feira amanheceu nublada. Pela manhã, tempestades marcaram presença: algumas pessoas reclamavam por terem se molhado, enquanto outras agradeciam pela chuva. O trânsito estava mais lento, e, mesmo com o céu cinza, o calor nos lembrava que era apenas mais uma típica chuva de verão. À tarde, o sol apareceu, iluminando o dia com sua cor e luz, trazendo consigo um céu limpo e um azul vibrante. O clima renovou a energia das ruas: mais pessoas circulando, mais barulho, mais vida. Assim passou a quinta-feira, com suas Quintanices.

Naquela quinta, ela tinha terapia. Organizou seu dia, seguiu a rotina matinal, lavou roupas, reparou as demandas a serem faladas e decidiu levar um bolo para compartilhar na sessão. Ao chegar, seguiu o ritual de sempre: pegou um copo d’água, entregou o bolo, e, com tudo preparado, começou a conversa. Entre tantos pontos levantados, havia um que a inquietava há anos.

Refletiu profundamente sobre a origem daquela questão. Seria algo errado com ela ou do ambiente em que vivia, o que ela precisava aprender com aquilo. Difícil chegar em uma conclusão quando envolve algo antigo. E ainda sim, havia disponibilidade. Insistiu. Sentiu uma aperto no coração. E, finalmente, disse o que precisava. Mais do que isso, ouviu o que precisava. Foi como arrancar um curativo de uma ferida já cicatrizada, mas que ainda era tratada como aberta e grave.

Se sentiu aliviada, com a sensação de que uma janela havia sido fechada e uma nova porta se abriu — um novo caminho, um novo aprendizado. Foi difícil fechar a janela, ela que sempre foi um ponto de vista e um direcionamento, o apego era muito forte e o medo de abrir a porta maior ainda. Foi necessário fazer o que precisava ser feito, mesmo que ela não gostasse. E depois foi ela quem mais gostou dos resultados que vieram. 

Naquele dia, entendeu que o orgulho a fazia carregar responsabilidades e lutar batalhas que não eram suas. Compreendeu que, em algumas situações e com certas pessoas, o melhor é apenas aceitar. A mudança, afinal, não depende dela, mas exclusivamente do outro. Naquela quinta-feira, ela foi à terapia. Naquela quinta-feira, ela aprendeu sobre aceitação. Ela aprendeu mais um pouco sobre si.

Grata por ler !

💋💋 

Uma crônica de Segunda

Nº I


É segunda feira a tarde, estava quente como de costume. Resolvi conhecer uma cafeteria nova que abriu na cidade. Uma decoração moderna, com pontos literários como referência e um aroma típico de café.
Estava vazia, somente eu e os funcionários do local, pedi um chocolate quente e um pão na chapa - sou uma mineira pela metade, não tomo café -. Na prateleira estavam livros e dentre eles todos os contos e crônicas de Clarice Lispector, além de outras, mas essas em questão me chamaram a atenção. 

Pedi ao balconista se eu podia ler enquanto comia e apreciava minha bebida, ele me permitiu e escolhi os contos de Clarice. O triunfo - era o título do conto que escolhi ler -, pra falar a verdade era o primeiro do livro e fiquei com ele mesmo. Era mais um conto sobre um casal que já não se suportava mais, com excesso de dependência emocional e como a protagonista lidou com o fim. - Interessante- Pensei quando terminei de ler. A escrita de Clarice, na minha opinião, sempre traz algum gatilho que no leva a pensar sobre alguma situação que passamos ou estamos passando.

Quando terminei a leitura, parei. Respirei fundo. Senti uma tranquilidade mental e uma disposição emocional considerável. Pensei em quantas vezes deixei de fazer algo do tipo, jogando a culpa na maternidade, nas tarefas de casa, no casamento, em qualquer coisa que viesse na mente. Sei lá porque... Medo? Preguiça? Insegurança? A ideia de que não mereço? Vai saber. Quantas vezes deixei de conectar comigo mesma e admirar. De passar um tempo de qualidade, que para mim é algo muito importante. 

Ouvi a conversa dos funcionários, estavam usando técnicas com os tipos de café e analisando os resultados. Os aromas que vinham e sabores. Foi divertido observar esse movimento humanos. Descobertas de sensações. Me fez me conectar comigo mesma, sacodir a poeira que se acumulou, olhar para o que surge e começar de novo. Logo pensei - Eu precisava disso! -.



Uma amostra de uma ideia em construção. 

Grata por ler !

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